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Ex-comandante da PM escreve carta aberta sobre acusação à corporação

Depois de provocar polêmica na segurança pública do Rio de Janeiro com uma declaração afirmando que a Polícia Militar fazia acordos com o crime organizado, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, confirmou nesta quarta-feira (1º) tudo o que disse à imprensa. Ele considera ‘normal’ as reações indignadas de membros da corporação fluminense.

O ministro esteve hoje em Brasília, onde disse “Sobre o Rio de Janeiro, não sei, já falei o que tinha que falar. Nenhuma reclamação. Reações são normais”, justificou. Nos últimos dias, Torquato Jardim afirmou que os comandantes de batalhões do estado seriam definidos por “acerto com deputado estadual e o crime organizado”, situação representada no filme “Tropa de elite”, dirigido pelo cineasta José Padilha.

A Assembleia Legislativa do Rio informou que vai enviar uma representação à Procuradoria-Geral da República para que apure as afirmações feitas pelo ministro Torquato Jardim. Numa carta aberta publicada em seu Blog, o coronel Wilton Ribeiro, ex-comandante Geral da PMERJ, defende a ação da polícia, relata a história de conquistas e lembra os 114 policiais mortos apenas este ano no Estado do Rio, que caem “como moscas” no enfrentamento a violência.

Segue reprodução do texto:

Carta aberta ao Sr Ministro da Justiça.

Exmo Sr Torquato Jardim, DD Ministro da Justiça do Brasil.

Sr Ministro:

  1. Sou o Cel PM Wilton Soares Ribeiro, da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Iniciei minha carreira militar como Soldado do glorioso Exercito Brasileiro, defendendo a democracia nas longínquas terras do Caribe, Republica Dominicana.


Tive a honra de trilhar todos os Postos do Oficialato de minha Corporação,  terminando pela honra máxima          de decidir seus destinos como Chefe do Estado Maior Geral e  Cmt Geral.

Me orgulho de ter sido o primeiro colocado em todos os Cursos realizados em minha Corporação, bem como      ter atingido posição de destaque na conclusão do Curso de Guerra na Selva , realizado no antigo COSAC,          hoje CIGS/ EB/ Amazonas.

Deixei alguns legados em minha Corporação, o que muito também me orgulho, como: Ter sido um dos                fundadores do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), e posteriormente seu Comandante,                criação da VBTP/T ( Viatura Blindada de Transporte de Pessoal/Tropa ), conhecida mundialmente como             “Caveirão", criação do GAM ( Grupamento Aeromarítimo), construção do  Palácio da Caveira ( Sede do                BOPE), construção do Batalhão da Maré, construção da sede nova do Batalhão de Jacarepaguá ( 18ºBPM),      aquisição dos Fuzis AR.15, utilizados até hoje pela Corporação, criação dos GPAE (Grupamento de                    Policiamento em Áreas Especiais), posteriormente conhecidos como UPP, bem como muitas outras                    realizações de Comando.

  1. Inicio minha missiva fazendo a pergunta que todos os seus amigos, auxiliares, funcionários, colegas de outros Ministérios, superiores, etc , devem estar se fazendo nesse momento: Onde o Sr estava com a cabeça, quando às 4;00 horas da manhã, do dia 31 do corrente, fez constar em anotações do Blog do Jornalista Josias de Souza, do jornal Folha de São Paulo, que o Comando Geral e de Batalhões da PM do Estado do Rio de Janeiro são sócios do crime organizado? Que o cel PM Teixeira teria morrido porque estava acumpliciado com o crime organizado? Isso entre outras e outras aleivosias.
  1. A Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro, a mais antiga Força de Policia Ostensiva do Cone Sul, criada por D. João VI em 1809, não merecia esse torpe e irresponsável tratamento. Ela é composta de homens e mulheres de bem. Muitos deles heróis. Se temos nossas mazelas internas , quaisquer Instituição, seja publica ou privada também as tem. Quando identificamos nossos desviados de comportamento esperado, "cortamos-lhes as cabeças". Sempre foi assim.  Ela constitui a melhor força permanente de combate urbano do Brasil, quiçá da América do Sul. Ela é a última barreira entre a relativa ordem e o caos social a ser em futuro não muito distante, composto por  força destruidora da criminalidade violenta, armada com armas de guerra, que  poderá se abater de forma ainda   mais brutal e impiedosa  sobre  nosso Estado. Destrui-la, a PMERJ, se esse é o vosso desiderato, é crime de lesa-pátria.
  1. Seus homens e mulheres, para defender a sociedade fluminense, independente de qualquer classe social, estão a morrer como moscas, abatidos pelas balas assassinas oriundas dos Fuzis de Guerra e Granadas, que o sr, por dever de oficio, deveria evitar que inundassem nossas fronteiras secas, molhadas, aéreas, portos, aeroportos, estradas federais. Somente neste ano de 2017, até o dia de hoje, foi atingida a macabra e covarde cifra de 114 Policiais Militares assassinados.
  1. Então, que historia é essa de atacar publicamente a PM do Estado do Rio de Janeiro e seus Oficiais e Praças, sem apresentar fatos concretos? Seu foro privilegiado não lhe dá este direito Sr Ministro. A Casa de Vidigal e Castrioto está profundamente indignada e revoltada com tal irresponsável e inconsequente procedimento totalmente desprovido do mínimo pundonor.
  1. Em nome de cada Cmt de Batalhão ou de fração menor, vamos nos defender. Em nome da memória do Cel PM Teixeira, já saudoso Cmt do 3º BPM, tombado em combate , vamos nos defender. Em nome de cada familiar PM atingido , vamos nos defender. Em nome de cada gota de sangue PM derramada em solo pátrio, ao longo de 208 anos de existência servindo e protegendo o povo de nosso Estado do Rio de Janeiro, vamos nos defender . Em nome dos tombados na Guerra do Paraguai e na Revolta da Armada, vamos nos defender.
  1. O Sr conseguiu atingir-nos naquilo que temos mais sagrado em nosso espirito militar. Nossa honra e a memoria honrosa de nossos mortos e feridos em combate. O Sr profanou os túmulos de nossos heróis. O Sr afrontou a sagrada história da Policia Militar.
  1. Vamos processá-lo Sr Ministro. A Caserna General Castrioto e o QG de Vidigal vão leva-lo às barras dos tribunais. Cada Policial Militar do Estado do Rio de Janeiro e seus também sofridos e mártires familiares vão  interpela-lo  judicialmente para que o Sr prove suas acusações. Essa será nossa defesa.   Este é o nosso dever. Essa é a nossa obrigação institucional.

Cel PM Wilton Soares Ribeiro, foi Cmt Geral da PMERJ

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